quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ariano Suassuna



O Nordeste e o Brasil estão tristes: morreu hoje, em Recife, Ariano Suassuna.

Ariano, do Auto da Compadecida e da Pedra do Reino. Ariano, das aulas espetáculo e da defesa intransigente da cultura brasileira. Ariano, paraibano de nascimento, pernambucano de coração, brasileiro.

Dentre as muitas frases dele, destaco esta:

"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso."


Um poema dele, que gosto muito, é do disco "A poesia viva de Ariano Suassuna", com participação do Zoca Madureira:

O mundo do sertão

Diante de mim, as malhas amarelas
do Mundo, onça castanha e desmedida,
No campo rubro, a Asna azul da vida:
à cruz de Azul, o Mal se desmantela.

Mas a prata sem sol destas moedas
perturba a Cruz e as rosas mal partidas.
E a Marca negra, esquerda, inesquecida,
corta a Prata das folhas e fivelas.

E enquanto o Fogo clama, à Pedra rija,
que até o fim serei desnorteado,
que até no Pardo o cego desespera,

o Cavalo castanho, na cornija,
tenta alçar-se, nas asas, ao Sagrado,
ladrando entre as Esfinges e a Pantera.



Vai em paz, Ariano Suassuna!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Copa de 2014 é a cara do Brasil



A Copa de 2014 é a cara do Brasil. Mas por quê?

Vejamos.

Primeiro, a escolha infeliz do mascote. Fuleco! Que nomezinho mais fuleco! Totalmente dissociado da realidade, coisa de marqueteiro de escritório, que nunca saiu à rua e não fala com as pessoas, que são o alvo da sua propaganda. Horrível, para não dizer coisa pior.

Segundo, as obras da Copa. A propaganda oficial falava na "Copa da Copas" - nunca, antes, em tempo algum, nem em lugar nenhum, se veria uma copa destas. De fato: não há notícia de outra copa com mais notícias de desvios de recursos, superfaturamentos nas construções dos estádios (elefantes brancos, como os de Manaus, Natal e Cuiabá, por exemplo), desvios de recursos e custos astronômicos, além dos atrasos nas obras das obras de mobilidade urbana, que deveriam atender aos torcedores e aos moradores, mas que ficaram pelo meio do caminho. Alguns foram tão bem construídos que até caíram, como o viaduto em Belo Horizonte. Mas, para quê viaduto? Nosso ex (atual?) presidente Lula disse que o povo estava acostumado a andar a pé. Para que metrô, também? Maria Antonieta também mandou o povo comer brioches, na falta de pão...

E por falar em política, achei válidas e relevantes as vaias que a presidente Dilma levou na abertura e na final da Copa. Não concordo com os xingamentos, não por ela ser mulher e do PT, como quiseram instrumentalizar os seus partidários e tentar transformá-la em santa e mártir. Ela merece respeito por ser gente e por estar ocupando a presidência da República. Apenas isto. Mas que as vaias foram legítimas, foram.

Na categoria belezas naturais e hospitalidade, somos campeões - não há governo, por pior que seja, como o atual, que nos tire isto. Os muitos problemas nos aeroportos, rodoviárias e afins, que a imprensa marrom comprada não mostrou, foram parcialmente compensados pela nossa quase infinita capacidade de desdobrar-se diante das dificuldades - o famoso jeitinho brasileiro, que tem um lado bom, mas outro lado muito ruim - já escrevi sobre isto aqui. Mas as pessoas vieram aqui a passeio, para torcer, não para trabalhar, o que as torna mais tolerantes aos percalços provocados pela nossa incompetência em resolver os gravíssimos problemas nacionais. Mas nós, cidadãos brasileiros, ficaremos aqui e os turistas vão embora, e continuaremos a conviver com vários títulos: campeões de analfabetismo, em falta de educação formal e informal, em má gestão de saúde, em pessoas lotando pronto socorros que não funcionam, que mais parecem pocilgas, porque os políticos são atendidos no Sírio Libanês...

Terceiro: o futebol. Montamos uma seleção meia boca, com bons jogadores, mas desentrosados, sem treinamento prévio. A CBF achou que a Copa seria ganha apenas no peso da tradição da nossa camisa. Mas, como dizia Garrincha, esqueceram de avisar o João - os nossos adversários. Enquanto pegamos seleções fracas, como a Croácia, que sentiu o peso da estréia, e os Camarões, que não jogaram nada, ainda ganhamos sofrivelmente. Empatamos com o México, suamos muito para ganhar nos pênaltis do Chile, que também estava fraquinho. A Colômbia, também fraquinha, nos tirou da Copa, ao eliminar o Neymar e o Tiago Silva, um contundido e o outro com o segundo amarelo, infantil.

Quando pegamos pela frente a primeira seleção de respeito, a Alemanha, foi o maior desastre futebolístico da história do nosso futebol. Apanhamos feito meninos, de 7 x 1. No jogo seguinte, contra a Holanda, outra pisa: 3 x 0. Levamos 10 gols em 2 jogos e quebramos vários recordes negativos: a maior goleada, o pior saldo de gols, a defesa e o goleiro mais vasados, perdemos o maior artilheiro (era o Ronaldo, agora é o Klose), e continuamos a não conseguir ganhar a Copa jogando em casa. Além do maracanaço, agora temos o mineiraço...

A Alemanha ganhou merecidamente, por esforço próprio, e ainda nos deu um prêmio de consolação: não deixou a Argentina ser campeã...

Até a próxima!