sábado, 24 de agosto de 2019

No frigir dos ovos



O que significa “No frigir dos ovos”?  (autoria desconhecida)

Não é à toa que os estrangeiros acham nossa língua muito difícil.
Como a língua portuguesa é rica em expressões!
Veja o quanto o vocabulário “alimentar” está presente nas nossas metáforas do dia-a-dia. Aí vai.

Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão “no frigir dos ovos”?

Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar.
Só que depois de um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem idéias e, pra descascar esse abacaxi, só metendo a mão na massa. E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas. Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.

Contudo, é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe. Afinal, não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos. Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.

Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese… etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca e, no fim, quem paga o pato é o leitor, que sai com cara de quem comeu e não gostou. O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco.

Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente. Por outro lado, se você tiver os olhos maiores que a barriga, o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado, porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal, pimenta nos olhos dos outros é refresco…

A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se junta a fome com a vontade de comer, as coisas mudam da água pro vinho.

Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.

Entendeu o que significa “no frigir dos ovos”?

domingo, 20 de janeiro de 2019

La canalha no tiene nacionalidad!




Um amigo meu, professor da universidade, fez pós graduação nos USA nos anos 70. Havia muitos estudantes do mundo todo. Em frente ao prédio da residência universitária, havia uma padaria que servia leite em uma máquina automática, semelhante um bebedouro: colocava-se uma moeda e a máquina liberava o líquido.
Um dia, alguém descobriu que a máquina estava liberando o leite sem pagar. A notícia se espalhou e houve uma correria dos estudantes para pegar a bebida grátis.
Um homem virou-se para ele e comentou: la canalha no tiene nacionalidad!

Lembrei-me muito desta história ontem, assistindo o noticiário. Duas notícias me chamaram a atenção.

A primeira foi a da explosão de um oleoduto no México, com dezenas de mortos e outros tantos feridos. Fiquei pensando: meu Deus, como um oleoduto subterrâneo poderia explodir e atingir tantas pessoas? Depois veio a explicação: naquele país, é comum as pessoas danificarem o oleoduto para roubar gasolina. Nas imagens, é possível ver dezenas de pessoas correndo com galões, garrafas, garrafões, vasilhames e a gasolina jorrando ao fundo. Bastaria uma faísca ou um cigarro aceso para que ocorresse uma catástrofe, e não deu outra coisa.

A segunda notícia foi a apreensão pela polícia rodoviária federal de um grande número de ônibus clandestinos, fazendo transporte interestadual e até internacional de passageiros. Nas imagens, famílias inteiras no meio da estrada, sem conseguir seguir viagem, longe de casa, em ônibus velhos caindo aos pedaços, sem a menor condição de funcionamento, motoristas sem habilitação e ou com a documentação vencida, em resumo: tudo errado.

Nos três exemplos que citei, o mesmo pano de fundo: a trapaça, a desonestidade e o desejo de tirar vantagem a qualquer custo.
Muitas pessoas vivem aplicando pequenos ou grandes golpes, em nome da “esperteza”, para “tirar vantagem”: furam fila, recebem troco errado e não devolvem, estacionam em fila dupla, passam o sinal vermelho, pegam leite sem pagar aproveitando a falha do equipamento etc.

O pior: às vezes até arriscam a vida, literalmente. No caso mexicano, o risco de uma explosão e morte para roubar um bocado de gasolina; no exemplo brasileiro, o risco de um acidente rodoviário grave. Além disto, ainda não querer a segurança de uma empresa regularizada, que tem motoristas treinados e ônibus em condições adequadas de funcionamento, economizando alguns reais na passagem, para “tirar vantagem” – escrevi sobre isto aqui.

Muita gente, infelizmente, ainda pensa pequeno, em conseguir pequenas “vitórias”, mesmo que às custas de terceiros, mesmo com risco de prejuízo pessoal e ou coletivo.

Ainda precisamos crescer como pessoas e como cidadãos...

Até a próxima!